Tangerinas, Ponkans, Mexericas… Qual a Diferença?

Frutas cítricas típicas de Inverno, aromáticas, muito consumidas e bastante apreciadas por todos, tanto a Ponkan quanto a Mexerica são espécies diferentes de Tangerinas, também conhecidas como Mandarinas, que pertencem à Família Rutaceae e ao Gênero Citrus.  O termo “tangerina”: “laranja tangerina”, isto é, “laranja de Tânger” (cidade do Marrocos). O termo “mandarina” vem do castelhano: ”mandarina”.

De acordo com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), tanto a Ponkan quanto a Mexerica são duas variedades de Tangerinas ou Mandarinas, com sabor, aroma e aspecto geral bastante semelhantes, porém produzidas por duas plantas distintas. Colhidas entre Maio e Agosto (safra de Abril a Setembro), as Tangerinas ou Mandarinas originam-se de plantas do Gênero Citrus, porém de Espécies distintas. Mexericas vêm da planta Citrus deliciosa Tenore e Ponkans da planta Citrus reticulata Blanco.

A Produção Mundial de Tangerinas

As Tangerinas constituem o segundo grupo de frutos cítricos mais importantes na Citricultura Mundial, que ocupam a maior faixa de adaptação climática entre os citros cultivados, uma vez que são plantas tolerantes a níveis altos e baixos de temperatura ambiente. Entre as variedades mais exploradas estão as Espécies: Satsuma, Mexerica e Tangerinas (Ponkan, Dancy e Cravo), e os hílbridos: Murcott e Lee.

A preferência pelas Clementinas e Satsuma no mercado Europeu está associada à boa qualidade dos frutos nas condições climáticas locais e à ausência de sementes, que é um item impulsionador do consumo de tangerinas e que deve ser objeto de futuras pesquisas no mercado brasileiro. O Brasil é o quarto produtor mundial de Tangerinas, sendo superado por China, Espanha e Japão.

  • China: com um notável crescimento nos últimos anos, suplantou com larga margem, produtores tradicionais, como Japão, Espanha e Brasil. Apesar da grande diversidade, por ser o centro de origem de espécies cítricas, e embora entre as tangerinas predomine as Satsuma, os chineses cultivam também Ponkan, Tankan e Murcott.
  • Espanha: a maior parte da área plantada pertence às Espécies Clementina e Satsuma.
  • Japão: as variedades de destaque, representa 80% da área plantada, são do grupo Satsuma.
  • Brasil: a produção é constituída basicamente pelas laranjas (89%). As tangerinas representam apenas 7% do total produzido, sendo São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, os estados brasileiros com maior participação na produção de Tangerinas.

Principais Variedades de Tangerinas Cultivadas no Brasil

Alguns frutos cítricos podem atingir a maturação interna normal antes da mudança externa da cor da casca, o que torna interessante seu desverdecimento: aumenta o valor de mercado e permite colheita precoce. Isto é realizado por aplicação de etileno (hormônio vegetal) no fruto, em câmaras climatizadas.

As Tangerinas são comercializadas para o consumo in natura e a industrialização, que obtém diferentes produtos processados, como sucos, óleos essenciais, pectina e rações. As variedades mais cultivadas são:

  • Tangerinas Ponkan ou Ponkans – Citrus reticulata Blanco: cerca de 58% do total comercializada;
  • Tangerinas Cravo ou Laranja-cravo – Citrus reticulata Blanco;
  • Tangerinas Dancy ou Dancy – Citrus reticulata Blanco;
  • Tangerinas Mexerica ou Mexericas ou Montenegrinas – Citrus deliciosa Tenore;
  • Híbrido Murcott ou Murcote – Citrus reticulata Blanco + Citrus sinensis Osbeck.

As variedades mais cultivadas e mais apreciadas em todo o território nacional, são: Ponkans, Mexericas e Murcotts. Isto, pelo fato de as variedades Cravo e Dancy serem de bem menor produção e, em geral, denominadas “coletivamente de Ponkans”.

1. O Grupo das Tangerinas Ponkans

Acredita-se que as Tangerinas Ponkans (Citrus reticulata Blanco) tenham surgido na Ásia, onde hoje estão países como Índia, China, Birmânia e Malásia. Do continente asiático, estas frutas foram levadas para o Norte da África, de onde seguiram para o Sul da Europa, durante a Idade Média. A primeira referência sobre a Tangerina no Brasil, aparece em escritos no ano de 1817: a fruta adaptou-se facilmente ao clima, especialmente nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Minas Gerais.

A planta apresenta tendência à produção alternada, ou seja, de produzir muito em um ano e pouco no ano seguinte. Recomenda-se fazer uma adubação equilibrada todos os anos e ainda, em alguns casos, retirar excesso de frutos (desbaste), para uniformizar a produção. As Tangerinas, bem como os demais cítricos, são do tipo não-climatérico: não amadurecem após a colheita. Logo, é importante, observar o ponto ideal de colheita, para evitar enviar ao mercado frutos imaturos e sem o sabor característico.

Estas são as variedades mais apreciadas e aceitas, por sua facilidade de descascar (casca de coloração laranja acentuada e pouco aderida aos gomos), sabor doce, tamanho grande e poucas sementes. Embora tolere variações de temperatura, a planta prefere climas amenos, assim, a produção brasileira está concentrada nos estados de São Paulo (cerca de 35% da produção), Paraná e Rio Grande do Sul.

2. O Grupo das Mexericas ou Montenegrinas

As Mexericas (Citrus deliciosa Tenore), também conhecidas como as “Tangerineiras do Mediterrâneo”, surgiram na Itália, nos anos de 1810 e 1818. Sua origem não é conhecida, mas há indícios de que a espécie tenha surgido a partir de uma tangerina chinesa. Contudo, é possível que seja constituída por híbridos verdadeiros da Tangerina comum (Citrus reticulata Blanco).

Por adaptarem-se bem ao clima quente e úmido, apresentaram bom tamanho e boa qualidade, como dos frutos nascidos no Norte da África do Sul, os quais amadurecem mais precocemente que estes produzidos na Espanha e na Itália. Mundialmente, são conhecidas como Willowleaf mandarin.

Ao longo das últimas décadas, esse grupo de Mexericas foi perdendo importância na Europa, com sua substituição pelas Tangerinas Clementinas, que têm grande importância na Região Mediterrânea, em especial no Marrocos e na Espanha, onde se plantam as “autênticas Clementinas sem sementes”.

Graças a diversos Estudos realizados e esforços intensivos, têm sido detectadas mutações de grande interesse, que possibilitam a obtenção de safras de Clementinas, além dos meses tradicionais (Novembro e Dezembro), estendendo-se, de meados de Outubro a meados de Fevereiro.

As Mexericas, quando comparadas às Tangerinas Ponkans, apresentam frutos de menor tamanho, casca mais amarelo-esverdeada, casca e gomos mais aderidos, no momento de descascá-las, e possuem maior quantidade de suco, sementes e óleos essenciais: muitas vesículas de óleo nas células da casca.

No Brasil, as Mexericas se adaptaram melhor ao clima do Sul do país. Atualmente, as variedades mais cultivadas são a Montenegrina e a Mexerica do Rio, em destaque na citricultura gaúcha, com a obtenção de variedades bem adaptadas ao Rio Grande do Sul.

3. Um Híbrido Importante: as Murcotts

A origem da Murcot é desconhecida. Acredita-se que seja resultante do programa de melhoramento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. No Brasil, foi introduzida pelo Instituto Agronômico de Campinas em 1948. Trata-se de uma fruta híbrida, nascida do cruzamento da Tangerina Ponkan (Citrus reticulata Blanco) com a Laranja Doce (Citrus sinensis Osbeck), também chamada de Tangor. Seus frutos são de tamanhos médios, mais aromáticos e com sabor mais próximo do da laranja. A casca possui espessura fina, levemente rugosa, rica em glândulas com óleos essenciais e se solta com mais dificuldade.

Nos supermercados brasileiros, são denominadas de Murcote ou Morgote e para a Indústria Alimentícia, a fruta é a principal matéria-prima, tipo exportação, para Sucos e Sorvetes de Tangerina. A fruta in natura, não é tipo exportação, devido às suas numerosas sementes pequenas e redondas.

Considerações Finais

Na língua inglesa, a Mexerica é uma “Mandarin Orange” e a Tangerina Ponkan é uma “Tangerine”. Isto é, as Ponkans são diferenciadas das Mexericas. No Brasil, conforme a Região esta distinção não existe, havendo um único nome para as duas variedades. Por exemplo, no Rio de Janeiro e em alguns Estados Nordestinos, as duas variedades são denominadas indistintamente de “Tangerinas”.

Em alguns Estados do Norte e partes do Nordeste, as duas variedades são denominadas, indistintamente, “Laranja-cravo”. Na Bahia e nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, especialmente em Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo faz-se a distinção entre as duas com os nomes: “Mexericas e Tangerinas”.

Na região Sul, fazendo alusão às palavras “Bergamota” (os nomes da fruta em italiano “bergamota” e em francês “Bergamotte”; e “Vergamota” em turco = “pera do príncipe”), os dois tipos são chamados de “Bergamota” ou “Vergamota”, especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

No Paraná, a Mexerica recebeu o nome de “Mimosa”: em Curitiba e no litoral paranaense (principalmente em Paranaguá). Entretanto, no Paraná, mesmo em Curitiba, muitos fazem a distinção entre as duas variedades, utilizando os nomes: Mexerica e Ponkan.

Nos Estados do Piauí e Maranhão, são conhecidas como “Tanja”, sendo isto uma abreviação de tangerina. Já nos Estados de São Paulo e Mato Grosso qualquer variedade de Tangerina é chamada de Ponkan…

… Particularidades de um “país continental” como é o caso Brasil!

Referências...

1. COELHO, Y. S. Tangerina para Exportação: Aspectos Técnicos da Produção. EMBRAPA – FRUPEX: Série de Publicações Técnicas, 24, Brasília – DF, 1996.

2. FIGUEIREDO. J. O. Variedades-copa de valor comercial. In: Citricultura brasileira. v. I. p. 228-264.: Fundação Cargill, Campinas, 1991.

3. FIGUEIREDO. J. O. de. Variedades-copa de citros. In: Encontro Paranaense de Citricultura 1, 1986. Londrina, PR Anais … p. 5978. Londrina, PR: 1986.

4. HODGSON. R. W. Horticultural varieties of citrus. In: REUTHER. W.; WEBBER. H. J.; BATCHELOR, L. D. The Citrus Industry. Berkeley: University of California. v. I. Capo 4. p. 431-591. 1967.

5. MOREIRA, C. S. Aspectos da citricultura brasileira. In: Encontro Paranaense de Citricultura 1, 1986, p. 35-36. Londrina, PR: IAPAR, 1986.

6. PASSOS, O. S. Citricultura nacional e mundial. In: Encontro Paranaense de Citricultura 2, 1989, Maringá, PR. Anais… p. 13-50. Maringá: PR: Associação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná, 1990.

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