Sementes de Chia: Importância, Nutrientes e Benefícios
As Sementes de Chia (Salvia hispânica), de origem mexicana, vêm sendo divulgadas, em reportagens, como milagrosas e as mais “novas aliadas” no combate à obesidade, prometendo perda de peso rápida.
Entretanto, é sabido que não existem “superalimentos” e, antes de incluir “alimentos novos” no cardápio, é muito importante conhecer e analisar três pontos fundamentais:
- A Composição Química: e as Propriedades Nutricionais do novo alimento;
- Os benefícios que: os nutrientes, presentes no alimento, podem oferecer à Saúde;
- Experimentar o novo alimento e: observar se tais benefícios se verificam em você, especificamente, uma vez que cada ser humano constitui um mundo bioquímico único!
Este artigo se propõe a fornecer informações para responder aos dois pontos iniciais, além de esclarecer quanto às maneiras de consumir esse Alimento Funcional. A partir de então, caberá a você experimentar essas sementes e descobrir, se realmente, constituem um bom alimento para a sua Saúde.
Origem e Importância das Sementes de Chia
As Sementes de Chia foram um importante alimento básico para os povos Mesoamericanos em tempos pré-colombianos, sendo consumidas principalmente por Maias e Astecas, para conferir força e aumentar a resistência física. Juntamente com a Chia, o milho, o feijão e o amaranto eram os alimentos mais importantes para mais de 11 milhões de pessoas, quando Colombo chegou à América.
Sementes, Farinha e Óleo de Chia eram muito apreciados e utilizados como medicamentos, produtos alimentícios e artísticos. Ramos, Folhas e Raízes da planta eram utilizadas, em menor quantidade, para combater infecções respiratórias. Entretanto, as Sementes de Chia também estavam associadas a Rituais Sagrados e serviam como oferenda aos Deuses dessas civilizações, o que despertou a ira de espanhóis católicos (os colonizadores desta região), que viam a cerimônia como um “ritual pagão”.
Assim, devido à perseguição religiosa, a Chia não pôde ser cultivada na Europa, desapareceu no Século XVI e, durante séculos, seu cultivo sobreviveu apenas em áreas montanhosas e isoladas do México e da Guatemala, permanecendo até os dias de hoje. No início da década de 1990, o interesse pelo cultivo de Chia foi retomado, a partir dos Estudos de um grupo de pesquisadores argentinos em parceria com a Universidade do Arizona (Estados Unidos). Desde então, os cientistas têm se voltado para as Pesquisas com essas Sementes, que passaram a ser cultivadas, comercialmente, em outros países.
O uso de Chia em diferentes finalidades persiste até hoje, contudo, as origens do cultivo e o processo de domesticação, ainda não são totalmente conhecidos. A planta está especialmente adaptada a regiões tropicais e subtropicais, sendo cultivada comercialmente por: México, Bolívia, Argentina, Guatemala, Equador, Peru e Austrália; seu maior centro produtor (México: cidade de Acatic, em Jalisco), exporta essas sementes, de forma crescente, para Japão, Estados Unidos e Europa. No Brasil, Regiões do Oeste Paranaense e Noroeste do Rio Grande do Sul começaram a investir nesse cultivo, obtendo bons resultados, apesar de ainda serem escassas as informações sobre as exigências nutricionais da planta.
O interesse da Comunidade Científica pelas Sementes de Chia está relacionado ao seu alto valor nutricional, por ser fonte natural de ácidos graxos Essenciais (Ômega-3 e Ômega-6), fibras, carboidratos, proteínas e potentes antioxidantes, e também por seu grande potencial de aplicação na Indústria de Alimentos, por seus Nutrientes Funcionais, indicadores de que essas sementes podem ser empregadas no enriquecimento de produtos de panificação (pães, bolos, biscoitos e bolachas) e barras de cereais, produção de hidrolisados proteicos para diversos produtos, confecção de maioneses com adição de mucilagem de Sementes de Chia, preparo de Farinha Funcional de Chia, entre muitos outros produtos.
A Chia é comercializada sob a forma de sementes, farinha ou óleo. Entretanto, é necessário estar atento ao comprar a Farinha de Chia, uma vez que algumas empresas fazem a extração parcial do óleo, antes de produzirem a farinha, e assim retiram grande parte dos Ácidos Graxos Essenciais presentes, deixando a farinha nutricionalmente mais pobre. Na embalagem do produto, deverá estar informado se a farinha é parcialmente desengordurada ou se é integral, além de detalhar a quantidade de gorduras na tabela de informações de conteúdo nutricional do produto. Portanto: olho no rótulo!
Propriedades Funcionais das Sementes de Chia
As Sementes de Chia foram aprovadas legalmente como alimento na América do Norte, Argentina, Austrália e Ásia, graças ao aumento do seu consumo, nos últimos anos. De acordo com o FDA (Food and Drug Administration: controla os alimentos e medicamentos, nos EUA), a Chia é considerada um alimento isento de regulação devido à ausência de riscos à saúde e ao consumo histórico que possui.
Em 1996, essas sementes foram descritas pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) como grande fonte em potencial de goma polissacarídica, devido às suas excepcionais propriedades mucilaginosas em solução aquosa e baixa concentração.
O gel formado, quando ingerido, produz uma barreira física que separa as enzimas digestivas dos carboidratos, promovendo uma lenta conversão de carboidratos em glicose e, consequentemente, uma lenta absorção, que mantém sob controle os níveis glicêmicos, sendo muito útil na prevenção e controle do Diabetes Mellitus.
A presença e a quantidade desses compostos fenólicos nas sementes são dependentes de uma série de fatores externos, como condições meteorológicas e de pós-colheita. Entretanto, sua presença em quantidades ideais garante às Sementes de Chia, grande estabilidade à Oxidação (de mínima a nula), que lhes confere elevado potencial dentro da Indústria Alimentícia, quando comparadas com outras fontes de Ácidos Graxos ômega-3, como as Sementes de Linhaça, cuja decomposição ocorre com muita rapidez, devido à ausência de antioxidantes próprios das sementes.
Devido às alegações terapêuticas, a Chia vem sendo considerada um Alimento Funcional básico em seu estado natural, cru e sem aditivos, cujos teores nutricionais de Ácidos Graxos Essenciais, Proteínas, Fibras Alimentares e Cálcio são comprovadamente superiores aos de alimentos como: Linhaça, Quinoa, Amaranto, Lentilhas, Ervilhas, Grão-de-bico e Feijões.
Principais Nutrientes das Sementes de Chia
Seus principais Nutrientes são descritos a seguir:
1. Ácidos Graxos Essenciais
As Sementes de Chia possuem entre 32 e 40% de óleos em sua composição, sendo cerca de 60% correspondente ao ácido alfa-linolênico (ômega-3), cujos benefícios já são comprovados na prevenção de Doenças Cardiovasculares e Neurológicas. Estudos clínicos mostram que o ômega-3 auxilia no controle da pressão sanguínea e na redução de triglicérides e colesterol, possuindo ainda atividade antitrombótica e anti-inflamatória que protegem o organismo contra Doenças Cardiovasculares e traz benefícios no controle de alterações do humor, aprendizado, capacidade de concentração e equilíbrio emocional.
2. Proteínas
As Sementes de Chia constituem uma grande fonte de proteínas (cerca de 24%), um indicativo para a sua utilização como fonte de nutrientes para animais e seres humanos, uma vez que essas sementes contêm todos os Aminoácidos Essenciais necessários à nutrição humana. Logo, as proteínas dessas sementes são de alto valor biológico, além de apresentarem boa digestibilidade.
O isolado proteico de Chia apresenta valores de capacidade de retenção de água e óleo com potencial para utilização como ingrediente funcional em aplicações alimentares, como salsichas e emulsões alimentares. A fração proteica da Farinha de Chia pode ser explorada como ingrediente nutricional atraente em produtos alimentícios processados, principalmente devido à tendência dos consumidores na escolha de alimentos associados à saúde e bem-estar. A proteína isolada a partir de fontes vegetais é de grande interesse, devido à sua utilização como ingrediente com propriedades funcionais.
3. Fibras Alimentares
O elevado teor de fibras das Semente de Chia (34,6%) pode aumentar a saciedade e diminuir o consumo calórico, sendo que sua ingestão também apresenta efeitos benéficos para a superação de fatores de risco associados ao aparecimento de várias Doenças Crônicas, algumas de grande importância para a Saúde Pública, como Obesidade, Doenças Cardiovasculares e Diabetes Mellitus do Tipo 2.
Em cada 100 g, há cerca de 29% de fibras insolúveis e 5% das solúveis (mucilagens), que exercem vários efeitos fisiológicos, auxiliando no controle dos níveis de glicemia e de colesterol, e aumento de saciedade. Por sua incapacidade de absorver água, as fibras insolúveis aceleram o trânsito intestinal e aumentam o peso das fezes, enquanto as solúveis formam gel no estômago e intestino, que garante aumento do bolo alimentar, prolonga o tempo de absorção da glicose, aumentando a saciedade.
Ao ser mergulhada em água, a Chia exsuda um gel transparente que permanece firmemente ligado às sementes. No epicarpo da semente encontram-se células que produzem mucilagem quando umedecidas. Ao entrar em contato com a água, o epicarpo incha, a cutícula se rompe, ao esgotar sua elasticidade, e o conteúdo das células é vertido como mucilagem, circundando toda a superfície das sementes.
Esse gel é composto de xilose, glicose e ácido glicurônico um polissacarídio com grande capacidade de reter e absorver água, que pode ser utilizado como agente emulsionante e estabilizante de emulsões, na Indústria de Alimentos. O potencial “emagrecedor” da Chia é atribuído a esse alto teor de fibras, que em contato com a água, aumenta até 12 vezes de tamanho, ocupando grande volume no estômago. Assim, os hormônios da saciedade (que avisam ao cérebro que o corpo já foi alimentado) entram em ação mais rapidamente, permitindo um melhor controle sobre a fome.
4. Minerais
As sementes de Chia constituem excelente fonte de cálcio, ferro, fósforo, magnésio e potássio. 100 g de Chia pode conter de 13 a 35 vezes mais cálcio, de 2 a 12 vezes mais fósforo, e até 9 vezes mais potássio do que os cereais trigo, arroz, cevada, aveia e milho. Cálcio é essencial à Saúde Óssea. Fósforo melhora a atividade cerebral e potássio melhora a atividade muscular e ajuda a manter estável a pressão arterial.
Uma importante diferença entre a Chia e as outras fontes de Ômega-3 é o baixo teor de sódio presente em suas sementes, o que a torna uma excelente opção de alimento para os indivíduos portadores de Hipertensão Arterial e necessitam de uma dieta com baixos níveis de sódio.
5. Vitaminas
As Sementes de Chia são grandes fontes de importantes vitaminas, como: A (retinol), B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B3 (niacina), C (ácido ascórbico) e E (alfa-tocoferol: também possui ação antioxidante).
6. Compostos Fenólicos e Carotenoides
As Sementes de Chia contêm elevadas concentrações de Compostos Fenólicos como: os Polifenóis (Ácido Cafeico e Ácido Clorogênico) e os Flavonoides (Miricetina, Quercetina e Kaempfenol); além de Carotenoides como o beta-caroteno. Esses compostos são antioxidantes primários e sinérgicos, que contribuem para a potente atividade antioxidante destas sementes contra a oxidação de lipídios, a qual pode afetar a qualidade dos alimentos e a saúde do consumidor.
Benefícios das Sementes de Chia para a Saúde
Resultados de Estudos recentes com as Sementes de Chia evidenciaram que a inclusão de 25 g dessas sementes, no cardápio diário, pode promover a Saúde Humana, pela sinergia entre Fibras Mucilaginosas, Ácidos Graxos Essenciais, proteínas, carboidratos, vitaminas, minerais e antioxidantes.
1. Seu Poder de Formar um Gel Mucilaginoso
Como o Psyllium e a linhaça, a Chia pertence à uma classe de Sementes Mucilaginosas, que são ricas em mucopolissacarídios e constituem uma excelente fonte de fibras alimentares solúveis e insolúveis. Os mucopolissacarídeos solúveis formam um “gel mucoso, pectinoso ou mucilaginoso” e incolor, à superfície das sementes, quando estas entram em contato com a água. Esse efeito mucilaginoso é responsável por retardar o esvaziamento gastrointestinal, promovendo Sensação de Saciedade durante maior tempo. Por isso, o consumo de Chia vem sendo associado à dietas para um emagrecimento saudável.
Quando se coloca um punhado de Sementes de Chia em um copo com água, constata-se, após alguns minutos, a formação desse tipo de gel. Estas mucilagens podem fixar até 12 vezes o seu peso em água e a sua formação dentro do organismo pode beneficiar a Saúde, através do bom funcionamento intestinal, do controle dos níveis de glicose e gorduras no Sangue e da melhora na Saúde da Mucosa Intestinal:
1. Funcionamento Intestinal: a formação desse gel no Intestino Grosso, engloba as toxinas facilitando sua eliminação; e melhora o volume e a consistência das fezes, facilitando sua eliminação.
2. Redução dos Níveis Sanguíneos de Glicose e Colesterol: esse gel formado no Estômago engloba as moléculas de: Gordura oriundas da alimentação, reduzindo sua absorção e, consequentemente, os níveis sanguíneos de Colesterol e Triglicerídios; e Glicose oriundas da alimentação, retardando sua chegada à Corrente Sanguínea, o que auxilia no controle da Glicemia.
3. Saúde da Mucosa Intestinal: a formação dessa camada mucilaginosa na parede intestinal atua como proteção contra as bactérias patogênicas e favorece a recuperação da Mucosa Intestinal.
2. Seu Elevado Teor de Ácidos Graxos Ômega-3
A presença de ácidos graxos ômega-3 na dieta favorece a circulação dos eritrócitos (glóbulos vermelhos do Sangue) e diminui a viscosidade do Sangue. Esses efeitos facilitam a microcirculação e possibilitam uma maior oxigenação dos tecidos. Além disso, o consumo frequente de alimentos ricos em ômega-3 reduz os níveis sanguíneos de colesterol e triglicerídios além de também reduzir a pressão arterial. Por isso, a inclusão desses ácidos graxos na dieta, pode ajudar a prevenir ou a controlar uma variedade de doenças, incluindo Doenças Cardiovasculares, Câncer, Artrite, Depressão, Mal de Alzheimer e outros.
3. Sua Composição em Vitaminas, Minerais e Compostos Fenólicos
A presença desses Micronutrientes nas Sementes de Chia pode contribuir para: regular o Metabolismo; combater os radicais livres (que matam as células e envelhecem precocemente o organismo); proteger a Saúde de todos os Sistemas do organismo e potencializar a Imunidade Corporal. A presença de potentes agentes antioxidantes da classe de Fenóis (polifenóis e Flavonoides) e Carotenoides, torna as Sementes de Chia uma das fontes vegetais de Ácidos Graxos ômega-3, mais estáveis à Oxidação Lipídica.
Como Incluir as Sementes de Chia no Cardápio Diário
Recomenda-se a ingestão de 25 g dessa semente ao dia, o que corresponde a duas colheres (sopa) por dia, como parte de um plano alimentar variado e equilibrado. Essa quantidade pode ser dividida em duas vezes, trinta minutos antes das principais refeições, para aqueles que desejam reduzir o peso.
As Sementes de Chia podem ser facilmente consumidas in natura, sob a forma de farinha ou de óleo. O ideal é adicionar essas sementes sobre saladas de hortaliças ou de frutas, iogurtes com frutas picadas, sucos de hortaliças, bebidas e vitaminas de frutas, como ingrediente em receitas doces ou salgadas, sob a forma de sementes ou de farinha, ou ainda como substituta da farinha de trigo.
Considerações Finais e Recomendações
Os Estudos até então realizados com Chia revelaram seu grande perfil de Alimento Funcional e vêm comprovando os diversos benefícios que suas sementes podem conferir à Saúde Humana. Entretanto, é muito importante ter em mente que o consumo de Chia deve estar sempre associado a uma dieta balanceada e diversificada, que respeite a individualidade bioquímica do consumidor.
Além disso, a Chia não deve ser tratada como uma “semente milagrosa” ou “superalimento”, e sim como mais um Alimento Funcional a ser adicionado no cardápio diário, para fazer parte dos cuidados com a Saúde, que além de uma alimentação saudável, incluem a pratica regular de exercícios físicos.
Cristine ferreira
26 de dezembro de 2017 @ 22:58
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