Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos

Enquanto o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, o mercado brasileiro aumentou 190%, colocando o Brasil em primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos no mundo. A magnitude do problema reside no fato de que, além de estas substâncias impactarem o meio ambiente, abalam a segurança alimentar e a saúde da população.

O Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva

O lançamento do Dossiê ABRASCO (Associação Brasileira de Saúde Coletiva): “Um Alerta sobre Impactos dos Agrotóxicos na Saúde”, que aconteceu em 28 de abril de 2015, no Rio de Janeiro, movimentou a imprensa pelo Brasil e chamou a atenção da população para este sério problema de Saúde Pública.

Depois de causar grande impacto em 2012, o Dossiê ABRASCO sobre Agrotóxicos ganhou uma nova edição, que reuniu as três partes (lançadas ao longo de 2012) revisadas, com uma quarta parte inédita intitulada: “A Crise do Paradigma do Agronegócio e as Lutas pela Agroecologia”.

Este capítulo inédito, concluído em outubro de 2014, foi dedicado à atualização de acontecimentos marcantes, Estudos e Decisões Políticas, com informações que envolvem os agrotóxicos, as lutas pela redução da utilização dessas substâncias e pela Superação do Modelo de Agricultura Químico-dependente adotado pelo Agronegócio Brasileiro.

O Dossiê afirma que um terço dos alimentos consumidos no Brasil está contaminado por agrotóxicos, e aponta os alimentos cuja produção demanda maior aplicação deste tipo de substâncias: soja (40%), milho (15%), a cana e o algodão (10%), frutas cítricas (7%), trigo (3%) e arroz (3%). Além disso, o Dossiê defende a proibição de agrotóxicos já banidos em outros países, e ainda liberados para utilização no Brasil, que representam graves riscos à Saúde Humana e ao Ambiente.

O ideal para a Saúde Coletiva seria evitar ou reduzir o consumo dos pesticidas em lavouras, cultivos, hortas e, consequentemente, na alimentação brasileira. Contudo, enquanto isso não ocorre, os cuidados devem ser tomados por todos, antes de ingerir os alimentos em suas residências.

Os Agrotóxicos e a Legislação Brasileira

De acordo com a legislação vigente, “agrotóxicos são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos para uso no armazenamento, cultivo e beneficiamento de produtos agrícolas, para alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-los da ação de seres vivos nocivos”.

O agrotóxico mais usado no Brasil e no mundo é o herbicida (mata mato) chamado Glifosato. É muito frequente, também, o uso de inseticidas aplicados para eliminar insetos e pragas, como as lagartas. Estes produtos são usados em todos os tipos de culturas: grãos, frutas e hortaliças. O problema está no tipo utilizado, que pode ser venenoso, e na quantidade aplicada, que pode ser excessiva.

Segundo o Ministério da Agricultura entre 2002 e 2011 a produção agrícola cresceu em torno de 46%, sendo que, nesse mesmo período, o consumo de fertilizantes cresceu 89% e o de agrotóxicos 60%. O Brasil é, desde 2008, o maior usuário de agrotóxicos, consumindo 20% do mercado mundial.

No Brasil, existe uma comissão que reúne três ministérios: o Ministério da Saúde, através da ANVISA, o Ministério da Agricultura e o Ministério do Meio Ambiente. Esta comissão avalia cada um dos agrotóxicos dentro das suas competências, quanto à funcionalidade, eficácia, benefícios e malefícios. A ANVISA, apesar de sua competência em constatar os malefícios de determinados agrotóxicos para a Saúde Humana, isoladamente, não consegue barrar a entrada do produto no país, devido a “pressões” exercidas pelo Ministério da Agricultura, por exemplo, sob a alegação de que os grandes produtores nacionais não têm “alternativas para a larga escala”, e que isso prejudicaria ou “inviabilizaria a Agricultura Brasileira”.

O uso excessivo de agrotóxicos não impacta apenas a qualidade dos alimentos, uma vez que traz graves consequências pela contaminação dos cursos d’água, do solo, dos lenções freáticos e dos trabalhadores expostos a esses produtos. Os agrotóxicos pulverizados nas lavouras em geral contaminam solos, água, plantações vizinhas, florestas e, muitas vezes, áreas residenciais. Há Estudos indicativos de que águas subterrâneas e até mesmo as da chuva estão contaminadas, colocando em risco a Saúde de populações que se abastecem de poços em regiões de grandes produções agrícolas.

Infelizmente, há diversos agrotóxicos proibidos em outros países que continuam registrados e a serem utilizados no Brasil. Em 2008, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) iniciou a Reavaliação Toxicológica de 14 desses produtos, devido ao fato de vários deles já terem sido proibidos em outros países, pela constatação da existência de graves efeitos sobre a Saúde. Quatro deles, cujos processos de reavaliação já haviam sido concluídos (confirmando oferecerem riscos à saúde humana), continuaram a ser utilizados no país até 2013. Motivo: burocracia, “defesa de certos interesses”… E outras alegações…

Estudos Brasileiros sobre os Resíduos de Agrotóxicos

Um estudo conduzido pela ANVISA desde 2001 até 2010 (realizada em todos os estados brasileiros, como parte do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos) encontrou alguns dos agrotóxicos de uso proibido no Brasil em uma de cada quatro amostras de frutas, legumes e verduras.

Em fevereiro de 2014, a ANVISA divulgou uma lista, mostrando que um terço dos vegetais mais consumidos pelos brasileiros apresentavam resíduos de agrotóxicos em níveis inaceitáveis, sob o ponto de vista da Saúde Humana. De acordo com essa lista, os alimentos campeões em agrotóxicos tiveram a seguinte porcentagem, de resíduos acima do recomendado, encontrados nas amostras: pimentão: 91,8%; morango: 63,4%; pepino: 57,4%; alface 54,2%; cenoura: 49,60%; abacaxi: 32,80%; beterraba: 32,60%; couve: 31,90%; mamão: 30,40%; tomate: 16,13%; laranja: 12,20%; e maçã: 8,90%.

A ingestão de alimentos com excesso de agrotóxicos de forma prolongada pode levar ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (especialmente: câncer, doenças neurológicas e malformação fetal) que, segundo Nota Técnica da ANVISA, podem gerar sintomas como dores de cabeça, alergias, coceiras e distúrbios do Sistema Nervoso Central.

Uma pesquisa realizada pela Unidade Técnica de Exposição Ocupacional e Ambiental do Instituto Nacional do Câncer (INCA), vinculado ao Ministério da Saúde, afirma que os agrotóxicos cancerígenos aparecem no corpo humano pela ingestão de água, pelo ar, pelo manuseio dos produtos e pelo consumo dos alimentos contaminados. Os pesquisadores do INCA dizem que os agrotóxicos podem não ser o vilão, mas fazem parte do conjunto de fatores que implicam no aumento do desenvolvimento de Câncer no Brasil, cuja estimativa que era de 518 mil novos casos no período de 2012 a 2013, foi elevada para 576 mil casos de 2014 para 2015. Entre os Tipos de Câncer, os mais suscetíveis aos efeitos de agrotóxicos no Sistema Hormonal são os de mama e os de próstata.

Especialistas ligados ao Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) e ao Fórum de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (FCA) defendem a taxação dos defensivos agrícolas, bem como a publicação da quantidade de sua utilização nos rótulos dos alimentos (que a esses tenham sido expostos), como formas de controle do uso de agrotóxicos na produção de alimentos. Na opinião dos especialistas, os tributos devem ser utilizados como instrumento para estimular práticas ambientalmente corretas e controlar a produção de produtos alimentícios que sejam prejudiciais à Saúde.

Como Reduzir Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos?

1. Lavar muito bem as frutas e hortaliças – a lavagem em solução de vinagre e água é uma medida eficiente para o controle de vários microrganismos. Entretanto, esse tipo de higienização não é eficaz para eliminar resíduos de agrotóxicos presentes nos alimentos, já que grande parte dos agrotóxicos utilizados na lavoura é de uso tópico (pulverização sobre a plantação), concentrando-se na superfície do alimento;

2. Bicarbonato de sódio – medida eficiente para o controle de certos microrganismos, que irá eliminar apenas uma pequena parte dos resíduos de agrotóxicos presentes nos alimentos: deixar os alimentos de molho em uma solução de 1 L de água e 1 colher (sopa) de bicarbonato de sódio por 30 minutos;

3. Tintura de Iodo a 2% – medida eficaz para eliminar resíduos de agrotóxicos: deixar os alimentos de molho em uma solução preparada com 5 ml da Tintura de Iodo a 2% (compra-se em farmácias) para cada 1 L de água, por 60 minutos (após 1 hora, descartar a água e deixar os alimentos escorrerem muito bem;

4. Descascar as frutas e legumes – os resíduos de agrotóxicos concentram-se nas cascas. No caso de folhosas, retiram-se as folhas externas, onde se concentram a maior parte dos agrotóxicos. Com sua retirada, a carga mais pesada é eliminada. Infelizmente, perdem-se alguns nutrientes, como as vitaminas;

5. Dar preferência a frutas e verduras da época – alimentos adquiridos fora de sua estação de cultivo estarão sujeitos a terem recebido maiores cargas de agrotóxicos, para aumentar o tempo de estocagem;

6. Dar preferência a produtos nacionais e de sua região – alimentos que percorrem longas distâncias são pulverizados depois da colheita, para aumentar o armazenamento e apresentam maior contaminação;

7. Sempre que possível, dar preferência aos alimentos orgânicos – apesar de custarem mais caro, são cultivados sem o uso de substâncias químicas, por isso são mais saudáveis. Em cidades grandes, são facilmente encontrados em feiras livres especializadas e diversos supermercados;

8. Diversificar os alimentos – além de propiciar boa mistura de nutrientes, reduz a chance de exposição ao mesmo tipo de agrotóxico usado pelo agricultor;

9. A dica de ouro é: conhecer a origem dos alimentos que irá consumir!

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