Líquidos às Refeições Interfere no Processo Digestivo?
É muito comum ouvir dizer que ingerir líquidos junto às refeições “dá barriga”.
É fato que, a ingestão de líquidos, quaisquer que sejam: sucos, chás frios, refrigerantes, bebidas alcoólicas ou até mesmo água, durante as grandes refeições (como almoço e jantar) interfere no Processo Digestivo:
- Dificulta a ação do Suco Gástrico;
- Ocasiona Indigestão;
- Leva à formação de gases e Flatulência com sensação de “estufamento”
- Mau aproveitamento dos nutrientes).
- Leva à ingestão de maiores volumes pela sensação de que “o alimento desce mais rápido”;
- E pode trazer ganho de peso.
Entenda Como Isso Acontece!
É fundamental entender que, quando presentes no meio digestivo, os líquidos:
- Diminuem a produção da Saliva: que é liberada durante a mastigação e, possui a enzima Ptialina ou Amilase Salivar, que é essencial para a digestão dos carboidratos. A escassez da Amilase Salivar irá comprometer a eficiência de todo o processo de Digestão dos Carboidratos.
- Aumentam o conteúdo gástrico: causando a diluição dos Sucos Digestivos, fundamentais neste processo, com o comprometimento da Acidez Estomacal, o que leva à Má Digestão das Proteínas e à diminuição da absorção de Minerais e Vitaminas.
- Dificultam a interação das gorduras presentes na comida com as Lipases Intestinais: o que irá dificultar o início da digestão desses nutrientes, atrasando e atrapalhando todo o processo Digestivo das Gorduras, por interferirem na atuação de enzimas fundamentais.
- Tornam mais longa a permanência dos alimentos no Trato Digestório: que, por não estarem totalmente digeridos, irão provocar uma Fermentação de Carboidratos pela Flora Bacteriana local, o que irá acelerar a formação de gases, levando à distensão abdominal com uma sensação de desconforto.
- Fazem com que os alimentos sejam engolidos com Maior Facilidade e Rapidez: sem exigir uma correta e devida Mastigação. Por isso, o indivíduo irá sentir fome mais cedo, comendo mais do que seria necessário. Deve-se lembrar de que quanto mais bem mastigados forem os alimentos, mais fácil se tornará a digestão e mais rapidamente virá a sensação de saciedade. Especialmente, para praticantes de dietas nutricionalmente equilibradas, que são ricas em fibras.
Então, Quando Devemos Tomar Água?
Cerca de 70% do corpo adulto é formado por água, que é essencial para que ocorram todas as reações bioquímicas necessárias ao bom funcionamento de cada órgão. A água está presente no interior de:
- Células;
- Sangue;
- Linfa; e de
- Secreções, como Saliva, Lágrima, Bile e Sucos Digestivos (Sucos: Gástrico, Entérico e Pancreático).
Portanto, o organismo, bem como todas as células que o compõem devem estar muito bem hidratados para que possam “trabalhar” com a necessária eficiência!
Mas, será que todos precisam ingerir 2 L de água por dia?
Não! As necessidades hídricas variam ao longo do dia, em função de vários fatores, como a temperatura ambiente, a alimentação praticada, do peso corporal e do nível de atividade física, a cada dia.
Há uma fórmula para calcular a quantidade de água a ser ingerida durante o dia: P x 40 = T água/dia
P = Peso (em kg) x 40 ml de água = Total de água /dia.
Logo, para um indivíduo que pesa 60 kg tem-se: 60 x 40 = 2.400 ml = 2,4 litros.
Essa quantidade indicará o número de copos a serem ingeridos durante o dia, ou poderá ser distribuída em garrafinhas “para levar consigo”, sempre que se fizer necessário!
Portanto: 2,4 litros = 6 copos de 400 ml, a serem ingeridos ao longo do dia; o que corresponde a aproximadamente 5 garrafinhas de 500 ml.
Dicas para a Ingestão Diária de Água:
1. Deve-se ingerir “em média 2 litros” de água durante o dia, sempre nos intervalos entre as refeições, no mínimo 20 minutos após e até no máximo 20 minutos antes das refeições.
2. Essa prática pode levar a comer menos, uma vez que muitas pessoas confundem a sensação de sede com a de fome: beber água é uma das maneiras de evitar comer em excesso!
3. Portadores de Gastrites e de outros Problemas Estomacais: um cuidado especial! A ingestão de líquidos junto às refeições, nesse caso, pode agravar o problema, uma vez que, quando o Estômago se contrai, os alimentos se misturam aos líquidos, aumentando a probabilidade de Refluxo Gastresofágico.
Exceção para que Líquidos e Refeições Estejam Juntos!
- Pode-se ingerir não mais do que, ¼ de copo pequeno de suco de limão que, por ser rico em:
- Ácido cítrico favorece o meio digestivo e a regulação do pH sanguíneo;
- Vitamina C, aumenta a absorção do ferro dos alimentos: uma tática interessante para anêmicos e para aqueles que têm dificuldade de absorver esse mineral.
Considerações Finais e Recomendações
Hoje, a Ciência reconhece que os Nutrientes têm a capacidade de interagir e, assim, modular mecanismos moleculares e funções fisiológicas, interferindo no Metabolismo dos organismos vivos. Bem como, já está comprovado o papel que a Genética desempenha na resposta do organismo à Ingestão Alimentar.
Para estudar esses temas tão cruciais de uma forma mais profunda surgiram dois campos de pesquisas: a Nutrigenômica e a Nutrigenética, que vêm revolucionado as Ciências da Nutrição e da Saúde, com seus diversos esclarecimentos de como a Prática Alimentar pode influenciar, afetando os eventos celulares e moleculares que são importantes na prevenção e/ou no desenvolvimento de doenças.
Ao longo do processo evolutivo, o homem vem interagindo com novas condições ambientais e alterações genéticas, às quais seu organismo pode adaptar-se e/ou reagir, de forma individualizada. Portanto, a comida ingerida pode Promover Saúde ou Trazer Doenças.
A partir disso e de tudo o que foi exposto acima, pode-se concluir que comer e beber durante grandes refeições exige conhecimento, observação e ponderação, para que a tomada de decisão seja, de fato, a mais adequada. É fundamental que cada individuo leia, informe-se e faça as experiências necessárias para transformar as informações adquiridas em Conhecimento!
A partir de então, com muita cautela, o indivíduo deverá observar como o “seu organismo” responde às experiências realizadas. Contudo, o processo deverá ser orientado e acompanhado por um Nutricionista.
Lembre-se: cada indivíduo é dotado de um “metabolismo único”, que trabalha sempre de acordo com sua Individualidade Bioquímica. Isto é: aquilo que é bom para uma pessoa pode não o ser para uma outra; Conhecimento e Autoconhecimento devem caminhar juntos para que haja discernimento. Somente agindo assim, e orientado por um bom profissional, você será sempre o melhor juiz de si mesmo!
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