Intoxicação, Intolerância e Alergia: Qual a Diferença?
Muitas vezes, a simples ingestão de um alimento pode desencadear uma “reação adversa ou anormal no organismo”, a qual poderá dar origem a diversos sintomas desagradáveis.
As reações adversas aos alimentos são muito confundidas entre si, graças à similaridade dos sintomas que podem originar. Estas reações adversas podem ser classificadas em:
Reações Tóxicas e Não Tóxicas
1. Reações Tóxicas: conhecidas como Intoxicações são dependentes da substância ingerida
2. Reações Não Tóxicas: são dependentes da Individualidade Bioquímica do indivíduo e podem ser:
- Não Imuno-mediadas: independem do Sistema Imune, as Intolerâncias Alimentares;
- Imuno-mediadas: dependem do Sistema Imune, as Alergias Alimentares.
Intoxicação Alimentar, Intolerância Alimentar e Alergia Alimentar podem, muitas vezes, apresentar os mesmos sintomas, contudo, possuem causas bem distintas, que as diferencia e podem direcionar o diagnóstico, a depender de exames e de um cuidadoso estudo de cada caso em questão.
Os sintomas são semelhantes e representados por:
- Dor abdominal e Cólicas;
- Extensa formação de gases;
- Barriga inchada e estufada;
- Distensão Abdominal;
- Diarreia ou prisão de ventre,
- Enjoos, Náuseas e Vômitos;
- Rubor Facial e Suor Excessivo;
- Tonturas e Palpitação Cardíaca.
Intoxicação, Intolerância e Alergia: Qual a Diferença?
Apesar da semelhança dos sintomas, é importante saber que algumas características podem definir cada caso, conforme a explicação que segue.
1. Intoxicação Alimentar
Intoxicação Alimentar é uma consequência direta da ingestão de alimentos contaminados por:
- Produtos químicos tóxicos: venenos, agrotóxicos e metais pesados;
- Propriedades farmacológicas de determinadas substâncias presentes em alimentos: como a cafeína no café, a tiramina em queijos maturados, etc.;
- Micro-organismos: vírus, bactérias, parasitas ou por suas toxinas. É sempre uma reação tóxica.
De um modo geral, a falta de higiene durante a manipulação e o preparo dos alimentos os predispõe à infestação, especialmente por certas bactérias, que podem causar uma intoxicação. A maioria dos casos de intoxicação alimentar acomete indivíduos que tenham participado de refeições em piqueniques, feiras livres, determinados refeitórios e restaurantes, ou grandes eventos sociais. Nesses casos, uma ou mais pessoas poderão ficar intoxicados, dependendo da atuação de seu Sistema Imune.
1. Principais Tipos de Intoxicação Alimentar e seus Micro-organismos Causadores:
- Botulismo: Clostridium botulinum;
- Enterite ou Gastroenterite: Campylobacter jejuni e Escherichia coli;
- Gastrenterite: provocada por ingestão de alimentos contaminados por uma toxina produzida pelas bactérias Clostridium perfringens e Staphylococcus aureus;
- Cólera: Vibrio cholerae;
- Listeriose: Listeria monocytogenes;
- Salmonelose e Febre Tifoide: Salmonella typhimurium ou typhi; e
- Shigelose ou Disenteria Bacteriana: Shigella Spp.
2. Principais Sintomas dessa Intoxicação:
Cólicas abdominais, diarreia (podendo conter sangue), febre e calafrios, dor de cabeça, náuseas, vômitos e fraqueza (pode ser grave e levar a uma parada respiratória, como em caso de botulismo). O desenvolvimento desses sintomas depende da causa exata da Intoxicação Alimentar e, geralmente, têm início de 2 a 6 horas após a ingestão do alimento contaminado.
3. O Tratamento deverá ter início imediato:
Vômitos e Diarreia deverão sessar no primeiro e segundo dia, respectivamente. Contudo, se 2 a 3 dias após início do tratamento, os sintomas não sessarem ou piorarem, deverá ser avaliada a necessidade de antibiótico ou mesmo fazer um internamento hospitalar para uma lavagem estomacal ou intestinal.
2. Intolerância Alimentar
A Intolerância Alimentar é um distúrbio metabólico, caracterizado pela incapacidade apresentada por um indivíduo de digerir determinados alimentos ou aditivos alimentares, seja pela falta ou por deficiência de alguma enzima necessária para sua correta digestão.
A Intolerância Alimentar pode ser congênita (presente já ao nascer) ou adquirida durante qualquer momento da vida de um indivíduo. Em bebês, este distúrbio pode ser identificado desde o início da infância, caso a criança apresente sintomas relacionados com dificuldade digestiva, como refluxo, muitas cólicas e distensão abdominal. Os mais propensos são aqueles que possuem histórico de Intolerância Alimentar Familiar e que não tenham sido alimentados exclusivamente com leite materno até os 6 meses. Estima-se que metade da população mundial e cerca de 70% dos brasileiros sofram com este problema.
Entre os casos mais comuns está a Intolerância à Lactose, causada pela ausência de lactase (enzima que digere a lactose: o açúcar do leite). Isso pode resultar em sintomas intestinais, como distensão abdominal e diarreia. Esta intolerância é dose dependente. Alguns indivíduos toleraram pequenos volumes de leite e podem se beneficiar ingerindo leites industrializados com baixos teores de lactose.
Além do leite e seus derivados, também podem causar intolerância: carne bovina, tomate, morango, chocolate, vinho tinto, espinafre, ruibarbo, banana, cavala (peixe), bacalhau, pimenta, ovo, mariscos, couve, arenque (peixe), camarão, amendoim e nozes.
1. Sintomas da Intolerância Alimentar Surgem:
Algum tempo depois de um indivíduo ingerir alimentos que tenha dificuldade em digerir corretamente.
2. Os sintomas mais comuns dessa intolerância são:
Diarreia ou prisão de ventre (ou alternância entre ambos), barriga inchada, gases, enjoo, vômito, dores abdominais e cólicas intestinais. Além destes sintomas, a intolerância alimentar pode, com o passar do tempo, gerar outros, tais como: dor de cabeça, enxaqueca, dificuldade em emagrecer, depressão e acne.
3. Para o Diagnóstico de Intolerância Alimentar:
Sugere-se o teste da provocação, isto é, ingerir o alimento e observar se os sintomas aparecem ou não e, a seguir, retirá-lo da alimentação para verificar se os sintomas desaparecem. Além disso, poderão ser realizados exames específicos. Há laboratórios capazes de identificar a Intolerância Alimentar para mais de 200 tipos de alimentos: muito útil para o diagnóstico.
3. Alergia Alimentar
Alergia Alimentar é uma reação adversa a determinados alimentos, que envolve um mecanismo imunológico e tem apresentação clínica muito variável; é o resultado de uma resposta exagerada (hipersensibilidade) do organismo (via sistema imune) a determinada substância (alérgeno) presente nos alimentos. As reações podem ser leves, como uma simples coceira nos lábios, até reações graves que podem comprometer vários órgãos. Em crianças pequenas (especialmente por leite de vaca e ovo), pode ocorrer perda de sangue nas fezes, o que irá ocasionar anemia e retardo no crescimento.
1. Sintomas da Alergia Alimentar:
Podem surgir na pele (urticária, inchaço, coceira, eczema), no aparelho gastrintestinal (diarreia, dor abdominal, vômitos) e no sistema respiratório (tosse, rouquidão e chiado no peito). Podem ocorrer manifestações mais intensas, acometendo vários órgãos simultaneamente, e levando ao óbito.
Esses sintomas podem se manifestar imediatamente ou até 8 horas depois do contato com o alimento causador da reação: a Hipersensibilidade Imediata. Entretanto, há outro tipo de Alergia, muito mais comum e que representa 98% das Alergias Alimentares: a Hipersensibilidade Tardia.
Nesse caso, os sintomas se manifestam entre 2 e 72 horas depois do contato com o alimento, e seus sinais clínicos podem aparecer de diversas formas, seja por problemas respiratórios (rinite, bronquite, sinusite), otite, enxaqueca, insônia, hiperatividade, ansiedade, depressão, dermatites, micoses e obesidade, dentre outros mais graves, como o edema de glote, que pode ser fatal.
2. Os Maiores Causadores de Alergia Alimentar são:
Leite e derivados, trigo e derivados, mariscos, ovos, chocolate, nozes, amendoim, milho e soja. Há também algumas reações adversas aos conservantes, corantes e a outros aditivos alimentares, que são menos comuns, mas não podem ser menosprezadas.
3. Entre os casos mais comuns estão:
- Alergia ao Glúten: uma proteína presente em trigo, cevada e centeio, que leva à Doença Celíaca); e
- Alergia à Proteína do Leite: a Caseína que é a principal proteína do leite.
4. Entre os Principais Aditivos Alimentares causadores de Alergia Alimentar estão:
- Corante artificial Tartrazina ou Amarelo FD&C nº 5 ou E102: pode ser encontrada nos sucos artificiais, gelatinas e balas coloridas;
- Glutamato Monossódico: que pode estar presente nos alimentos cárneos, sopas industrializadas e temperos (caldos de carne ou galinha); e
- Sulfitos: usados como conservantes em alimentos (frutas desidratadas, vinhos, sucos industrializados) e medicamentos, os quais têm sido relacionados a crises de asma em indivíduos sensíveis.
5. Outros aditivos alimentares causadores de Alergia Alimentar
Presentes em diversos alimentos industrializados são listados a seguir, acompanhados de suas siglas, a serem incluídas nos rótulos dos alimentos que os contenham:
- Conservantes: E210, E219, E200, E203;
- Aromatizantes: E620, E624, E626, E629, E630, E633;
- Corantes: E102, E107, E110, E122, E123, E124, E128, E151;
- Antioxidantes: E311, E320, E321.
6. Diagnóstico e o Tratamento da Alergia Alimentar:
Dependem de história clínica minuciosa associada aos dados de exame físico que podem ser complementados por testes alérgicos. Mas, seja qual for o tipo de alergia diagnosticada, a primeira conduta deverá ser a exclusão total do alimento alergênico da dieta, por período que deve variar de acordo com a gravidade do caso. Em alguns casos, a exclusão deverá ser total e permanente, principalmente quando o alimento em questão colocar em risco, a vida do indivíduo.
Considerações Finais
A diferença entre Intoxicação, Intolerância e Alergia Alimentar está no tipo de resposta que o organismo produz quando está em contato com determinado alimento:
Na Intoxicação Alimentar: uma reação tóxica do organismo – minutos ou horas após a ingestão de um alimento contaminado, surgem sintomas como vômitos, diarreia e mal estar;
Na Intolerância Alimentar: uma incapacidade orgânica – o corpo não consegue digerir ou metabolizar o alimento, que se acumula no organismo, provocando sintomas como dor abdominal, gases, diarreia ou prisão de ventre, enjoo ou vômito; e
Na Alergia Alimentar: uma hipersensibilidade orgânica – o corpo combate o alimento ingerido como se este fosse um agente agressor, respondendo imediatamente e de forma exagerada, mesmo quando em contato com pequenas quantidades do alimento (uma resposta imediata do Sistema Imune), originando sintomas como, manchas na pele, tosse, irritação nasal ou ocular, asma ou inchaço da laringe.
Lídia de Oliveira Paula
27 de setembro de 2017 @ 06:25
Bom dia ,
Gostaria de esclarecer algumas dúvidas, tenho um filho autista e apresenta dor abdominal atualmente, sugere-se processo inflamatório intestinal, porém se alergia é imuno mediada, a leitura do IGE específico já me fornece suas alergias, não é? Apresentou resposta imunológica apenas para peixes e crustráceos. Seu IGE total =667, logo hiper reativo, concorda? Não entendo porque a médica insiste em solicitar alergias alimentares nos EUA, uma vez que este exame(IGEs específicos) já realizado indentifica a reação por resposta imune.Sou farmacêutica e de fato não entendo porque realizar estes exames? A pesquisa de alergia já foi feita! Já foi retirado o alimento.Realiza tratamento biomédico com probióticos e reposições enzimáticas.Como clostridium deu indeterminado eu acredito que possa ser isso, porque ainda queixa um pouco de dor abdominal.Parasitoses todas negativadas.O que acha?Fiz E.coli liofilizada somada aos probióticos e apresentou melhora muito signiticativa.Grata pela atenção.Lídia