A História do Sorvete
Curiosamente, o sorvete, uma das sobremesas mais apreciadas de todo o Planeta, surgiu muito antes da primeira geladeira e tem sua Origem marcada por controvérsias, folclore e lendas.
Os indícios mais antigos, mencionando “uma espécie de sorvete” são da Antiga Civilização Chinesa e datam de 3.000 a. C. O “sorvete” daquela época era feito com neve, suco de frutas e mel. A técnica foi passada aos árabes, que a aperfeiçoaram e criaram bebidas geladas chamadas de “sharbat” (“bebida fresca”), as quais, mais tarde, transformaram-se nos famosos Sorvetes Franceses, sem leite: os “sorbets”.
A Chegada do Sorvete à Europa
Nos banquetes de Alexandre, o Grande, na Grécia, e nas famosas festas gastronômicas do Imperador Nero, em Roma, os convidados já degustavam frutas e saladas geladas com Neve. Os escravos traziam neve nas montanhas para misturar com mel, polpa ou suco de frutas.
De acordo com alguns pesquisadores, o Rei da Macedônia, Alexandre, o Grande (356-323 a. C.), introduziu o sorvete na Europa, ao trazer do Oriente uma mistura de salada de frutas embebida em mel e mantida gelada pela neve do Inverno. Contudo, o preparo dessa novidade era caro e complicado, porque utilizava gelo trazido das Neves das Montanhas. Para preservar o gelo, faziam-se buracos na terra, onde o gelo era comprimido e coberto com palha, e os buracos eram revestidos com madeira.
Cozinheiros gregos e romanos incrementaram a receita, adicionando nata, mel, coentro e frutos secos ao gelo. Com a decadência da Cultura Antiga, perdeu-se o culto do gelado, até a Idade Média, quando voltou a ser popular, graças a um confeiteiro siciliano que teve a ideia de fabricar gelo artificialmente, utilizando azotato de potássio (salitre). Por isso, a Sicília reivindica o estatuto de “Pátria do Sorvete de Consumo”.
A Apresentação do Sorvete para o Mundo
A grande revolução no mundo dos sorvetes ocorreu em 1292, quando o italiano Marco Polo visita a China e retorna à Itália trazendo o segredo do preparo de sorvetes. A novidade difundiu-se entre a realeza e a aristocracia italianas, que adotaram os gelados de fruta como um prato de luxo, cujo preparo era considerado uma sofisticada arte. Através dos mestres sorveteiros italianos, que guardavam com extraordinário cuidado suas receitas, o conhecimento dos “gelatos” (sorvetes em italiano) difundiu-se lentamente pelas Cortes Europeias, mantendo-se como privilégio exclusivo para nobres e poderosos.
Em 1533, a Princesa florentina Catarina de Médicis casou-se com o herdeiro do trono francês, Henrique II. Nesta ocasião, a família da Princesa levou um sorveteiro de Veneza para a corte francesa e, entre as novidades, trazidas da Itália para o banquete de casamento, estavam os sorvetes, que encantaram toda a corte francesa. A neta de Catarina de Médicis casou-se, em 1630, com Carlos I da Inglaterra e, seguindo a tradição, apresentou o sorvete aos ingleses. Mas, o sorvete continuava a ser privilégio de poucos.
Em Portugal, o sorvete chegou durante o período de dominação espanhola (1580-1640), quando as bebidas nevadas faziam grande sucesso, embora fosse caro trazer Neve da Serra da Estrela, para a Corte em Lisboa. Por volta de 1715 (reinado de D. João V), havia inúmeros fabricantes de sorvete, em Lisboa.
Somente em 1686, o sorvete tornou-se acessível ao público francês, quando o siciliano Francesco Procópio dei Coltelli inaugurou, em Paris, o Café Le Procope. A primeira cafeteria e sorveteria da cidade (funciona até hoje) oferecia 80 variedades, produzidas com uma máquina inventada por Procópio, que homogeneizava os ingredientes e gerava um sorvete muito similar ao que se conhece hoje.
A partir de então, os sorvetes se espalharam por toda a Europa. A primeira sorveteria da Inglaterra foi aberta em 1757, na Berkeley Square, em Londres. No final do Século XVIII, os sorvetes cremosos já haviam saído da elite e chegado a todas as camadas sociais.
O Sorvete Chega à América e “Explode no Mundo”
Em 1770, o sorvete chega aos EUA, levado pelo italiano Giovanni Bosio. A novidade conquistou o paladar dos norte-americanos, rapidamente, o que deu à História dos Sorvetes importantes capítulos, transformando o País no principal produtor e maior consumidor mundial desta nova e deliciosa iguaria.
Em 1846, a empresa norte-americana Nancy Johnson inventou um congelador que funcionava com uma manivela e, quando girada manualmente, agitava uma mistura de vários ingredientes. Essa era a precursora das primeiras máquinas para fazer sorvetes industriais.
Em 1851, o leiteiro Jacob Fussel abriu, em Baltimore, a primeira fábrica de sorvetes, tornando-se o primeiro produtor mundial em larga escala, dando ao sorvete maior popularidade, e consolidando os EUA como os maiores produtores mundiais de sorvetes.
Em 1876, Carl Von Linde construiu a primeira máquina refrigeradora, o que permitiu a produção de gelo. A partir desse momento, o sorvete ganhou mais espaço na sociedade, passando de um alimento proibido a uma sobremesa comum, presente no cotidiano das pessoas.
No final do Século XIX, os americanos criaram as três mais famosas receitas de sorvete: o Sundae, a Banana Split e o Ice Cream Soda, que fazem sucesso até hoje e são símbolos da cultura do país.
Em 1904, durante a Feira Mundial de St. Louis, um sorveteiro inventou a casquinha para sorvetes, ao ver esgotar-se o estoque de pratos, resolveu servir os sorvetes nos waffles do estande vizinho.
Em 1905, na Itália Frank Epperson, aos 11 anos, inventou o picolé, ao esquecer, no quintal, um copo de refresco com uma colher dentro, durante uma noite inteira de Inverno. De manhã, observou que a bebida e a colher haviam congelado juntas.
Em 1920, um fabricante de Ohio, Harry Burt, pôs à venda o primeiro picolé dos EUA. No mesmo ano, Christian Kent Nelson lançou o Eskimo Pie, o primeiro picolé norte-americano recoberto com chocolate.
O Sorvete no Brasil
Os sorvetes brasileiros ganharem um toque tropical, sendo produzidos a partir de frutas típicas locais como caju, coco carambola, pitanga (o predileto do Imperador D. Pedro II), jabuticaba e manga. Na época, não havia como conservar o sorvete gelado, por isso, o Sorvete tinha que ser consumido logo após seu preparo. Por isso, as sorveterias anunciavam a hora certa para o seu consumo.
Historiadores relatam que o sorvete tem um papel muito importante na História do Brasil, por ser considerado um dos fatores que motivaram a libertação feminina. Antes, Bares e Confeitarias eram frequentados única e exclusivamente por homens mas, com a chegada dos Sorvetes ao Brasil, as mulheres somaram forças para executarem seus “primeiros atos de rebeldia”: sair para tomar Sorvete!
Os cariocas foram os primeiros a experimentar a delícia gelada que já fazia sucesso em boa parte do mundo. No dia 23 de agosto de 1834, Lourenço Fallas inaugurou dois estabelecimentos, destinados à venda de gelados e sorvetes, na Corte. Para isso, Lourenço Fallas importou de Boston (EUA), pelo navio americano Madagascar, 217 toneladas de gelo, que foram conservadas, por cerca de 4 a 5 meses, envoltas em serragem e enterradas em grandes covas.
Em São Paulo, a primeira notícia de sorvete que se tem registro é do seguinte anúncio no jornal: “A Província de São Paulo”, de 4 de janeiro de 1878, que dizia: “Sorvetes – todos os dias às 15 horas, na Rua direita nº 14”. No interior do Brasil, durante muito tempo, o Sorvete foi ignorado. O sertanejo se recusava a tomá-lo por ser frio demais, suspeitando que o sorvete desequilibrava o calor interno do corpo.
A distribuição do sorvete brasileiro em escala industrial deu-se a partir de julho de 1941 quando, nos galpões alugados da falida fábrica de sorvetes Gato Preto, na cidade do Rio de Janeiro, foi fundada a U.S. Harkson do Brasil, a primeira indústria brasileira de sorvete, cujo primeiro lançamento, em 1942, foi o Eski-bon, seguido pelo Chicabon. Seus formatos e embalagens foram revolucionários para a época. Dezoito anos mais tarde, a U.S. Harkson do Brasil mudou seu nome para Kibon.
Para incentivar o consumo do Sorvete no Brasil, durante todo o ano, e não apenas no Verão como era hábito no País, a Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (ABIS) instituiu, desde 2003, o dia 23 de Setembro como o Dia Nacional do Sorvete.