Ficar sem Comer, Não Ajuda a Emagrecer!

A correria do dia a dia pode levar muitas pessoas a passarem várias horas sem se alimentar, às vezes, até mesmo sem se quer perceber. Por outro lado, esta prática é muito frequente entre aqueles que desejam emagrecer, acreditando que, agindo dessa forma, irão atingir seus objetivos de perda de peso e redução da gordura corporal. Mas, será que passar horas se torturando sem comer pode ajudar a Emagrecer?

Um Jejum equilibrado e consciente, para fins de limpeza e desintoxicação ou após abusos alimentares, bem conduzido e acompanhado por um bom Nutricionista, ou até mesmo para fins espirituais, pode ser muito bem tolerado pelo organismo além dos ganhos para a Saúde. Contudo, passar horas sem se alimentar, se torturando com a lembrança de alimentos objetivando emagrecer, pode ser prejudicial ao organismo e levar ao acúmulo de gordura corporal, especialmente na região abdominal. Isto é: “vai direto para a barriga” e de lá, irá ameaçar a Saúde do corpo todo.

Como o Corpo Saudável Utiliza a Energia dos Alimentos?

Para entender porque ficar sem comer, pensando em perder peso não ajuda a emagrecer, é importante saber de que forma o organismo de uma pessoa saudável gasta a energia obtida a partir dos alimentos por ela ingeridos. É através da combustão dos alimentos, uma reação química geradora de Energia sob a forma de calor, que um corpo saudável produz a Energia necessária para a vida. A queima da glicose, produzida durante a digestão dos alimentos, é o principal meio de fornecimento de Energia para o organismo humano. A Energia assim produzida será utilizada pelo corpo da seguinte forma:

1. Metabolismo Basal – gasto energético durante o repouso, responsável pelos processos fisiológicos como respiração, batimentos cardíacos, circulação sanguínea…

2. Termogênese Alimentar – gasto energético para a digestão, metabolização, aproveitamento dos nutrientes e excreção dos dejetos nocivos ao organismo (cerca de 10% do total).

3. Termorregulação – gasto energético para manutenção da temperatura corporal, que sofre alterações com a adaptação às mudanças de temperatura ambiente. Assim, graças aos efeitos da Termogênese associada ao Metabolismo, em dias quentes, o corpo transpira e perde calor para manter sua temperatura em torno dos 36 ºC. Por outro lado, em dias frios, o corpo gasta Energia para elevar sua temperatura ao seu estado normal (36 ºC), após baixá-la em resposta à queda da temperatura ambiente.

4. Taxa Metabólica Normal – gasto energético com as atividades diárias normais e também com a prática de atividade física. Esta é a que mais queima energia (até 40% do total). Portanto, a maior parte da energia proveniente dos alimentos ingeridos deverá ser gasta em nossas atividades diárias, ou irá transformar-se nos “indesejáveis quilinhos extras”. Isto mostra como a prática regular de atividade física é importante para a manutenção do peso ideal e auxilia a eliminar o peso corporal excessivo.

Metabolismo Basal e Termogênese são Determinados Geneticamente

A Energia gasta para Metabolismo Basal e Termogênese é determinada geneticamente e varia de uma pessoa para outra. Contudo, fatores como idade e sexo interferem no Metabolismo Basal.

No caso da idade – por exemplo, sabe-se que as necessidades energéticas essenciais declinam cerca de 10% ao longo da vida. Assim, aos 50 anos, o gasto energético será menor do que aos 30 anos e, se a pessoa continuar comendo a mesma quantidade, a tendência será: a pessoa engordar ao longo do tempo.

No caso do sexo – o gasto energético basal masculino, por questão estrutural, é superior ao feminino: os homens possuem mais massa muscular, que compõe o tecido de maior gasto energético do corpo.

Massa Muscular e Gasto Energético

Quanto maior for a massa muscular, mais Energia o corpo gastará em repouso. Outro motivo para praticar exercícios físicos, pois aumentando-se a massa muscular: aumenta-se o Gasto Metabólico Basal.

Passar Longos Períodos Sem Comer: Aumenta o Abdômen!

Na verdade, passar longos períodos sem se alimentar, pensando em emagrecimento, além de “não dar resultado”, leva ao acúmulo de gordura no corpo, especialmente na região abdominal. Isto é: aumenta a circunferência abdominal e pode ser um verdadeiro desastre para o organismo.

Infelizmente, este mal hábito pode fazer com que a Glicemia (taxa de glicose: o açúcar do Sangue), caia demasiadamente (Hipoglicemia), levando o organismo a liberar o Hormônio Insulina de forma exagerada, o que irá favorecer o estoque de gordura na região abdominal.

Quadros de Hipoglicemia provocam mal-estar, desânimo, tremores, alterações de humor, baixa de concentração e improdutividade, submetendo o organismo todo a um grande Stress Metabólico.

Entendendo Como e Porque Isto Acontece

Ao ser privado de energia, o organismo aciona todo um mecanismo que favorece a compulsão alimentar, a depleção de massa muscular e, consequentemente, o acúmulo de gordura na região abdominal. Ainda que o peso caia na balança: o indivíduo não estará perdendo gordura, e sim, sua massa muscular.

É fundamental entender o que acontece no organismo humano, cerca de quatro horas após a última refeição ingerida, quando os Nutrientes já tenham, praticamente, sido absorvidos pelas células. Por que:

1. O longo período de jejum ativa os Sistemas de Emergência do organismo, fazendo com que o Cérebro consuma a glicose presente no Sangue: por “temer” que advenha um período de “inanição”.

2. Buscando alternativas para fornecer glicose ao Cérebro, que depende desse Nutriente para funcionar, o corpo passa a liberar Grelina: Hormônio produzido pelo Estômago quando vazio, que atua no Cérebro, “disparando o Sinal de Fome”, para que o corpo se reabasteça: “é preciso comer para manter a vida”!

3. A falta de glicose e a abundância de Grelina, na circulação sanguínea, propiciam os “ataques de gula”. Mesmo que o indivíduo resista a esses ataques, não irá perder gordura, e sim, massa muscular. Isso ocorre por que a queda abrupta da Glicemia ativa o Fígado para que este forneça Glicose ao Sangue.

4. Contudo, as reservas de Glicogênio (uma reserva de Energia depositada no Fígado, para os períodos de jejuns fisiológicos) já foram consumidas durante o logo período sem alimentos, o Fígado “se vê obrigado” a “fabricar” Energia, a partir de outra fonte: as proteínas presentes nos Músculos.

5. Ocorre, então, o aumento dos níveis de Cortisol (Hormônio do Stress liberado pelas Glândulas Suprarrenais): responsável pela transformação de proteínas musculares em Energia. Esta liberação é uma resposta ao stress provocado no corpo, pelo longo período de jejum.

6. O aumento desse hormônio causa a destruição de proteínas dos músculos e do colágeno da pele, além de estimular a produção e o acúmulo de gordura no corpo, especialmente na região do abdômen.

7. As proteínas assim destruídas irão ao Fígado, onde serão transformadas em glicose, para estabilizar os níveis de Glicemia, e assim, manter a fonte de Energia essencial à manutenção da vida.

8. Logo, ter o hábito passar horas sem se alimentar, com o intuito de emagrecer, além de não resolver, desequilibra o Metabolismo, trazendo consequências desastrosas para o organismo todo.

Consequências de Passar Longos Períodos Sem Se Alimentar

Como os recursos estão escassos, pelos longos períodos sem alimentos, o corpo passa a restringir o gasto energético, o que irá tornar o Metabolismo cada vez mais lento, resultando em: fraqueza, apatia, cansaço, irritação, improdutividade, “acúmulo de fome” para as próximas refeições e dificuldade em perder peso. O corpo se tornará bem “econômico e guardador das calorias ingeridas”, as quais serão transformadas em Triglicerídios e armazenadas como gordura corporal, sobretudo, na região abdominal.

Isso acontece por que a tendência é: assim que houver fornecimento de alimentos, o organismo se recuperará e passará a elevar o peso, tentando fazer reservas de energia (armazenada sob a forma de gordura) para “se prevenir contra um próximo período de jejum forçado”. Dessa forma, as calorias ingeridas serão desviadas para as células adiposas (do tecido gorduroso), aumentando a gordura corporal (em especial na região abdominal) em detrimento da massa muscular.

Com o “acúmulo de gordura instalado no organismo”, graças ao ganho de peso, a situação poderá piorar muito, uma vez que o próprio Tecido Adiposo possui uma enzima capaz de aumentar a produção de Cortisol, formando-se um círculo vicioso, com graves consequências para o corpo todo.

Uma das grandes consequências advém do fato de que quando o Tecido Adiposo “se cansa” de acumular gordura, o fígado é “invadido pela gordura excedente produzida”, o que poderá levar a um estado de inflamação desse órgão vital. A evolução desse quadro inflamatório leva à “famosa gordura no Fígado” (Esteato-hepatite Não Alcoólica ou Esteatose Hepática): um grande fator de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares, além de ser uma grave ameaça para o próprio Fígado que, caso não seja tratado, poderá evoluir para Cirrose, encaminhando-se para uma Falência Hepática.

Outra consequência grave, comprovada por diversas Pesquisas e Estudos, é que o excesso de gordura, principalmente a da região abdominal, também “atrapalha a ação da insulina”, gerando a “Resistência à ação da Insulina”: hormônio responsável por encaminhar glicose para dentro das células, a fim de gerar a Energia para o organismo. Com a Resistência à ação da Insulina instalada, o Pâncreas “se vê obrigado” a produzir, cada vez mais, excessos desse hormônio “em uma tentativa de ver o hormônio funcionar”, afinal a glicose não pode continuar se acumulando na corrente sanguínea.

O “excesso de Insulina inoperante” (Hiperinsulinemia) e a “fartura de glicose no Sangue” (Hiperglicemia), haverá uma grande propensão ao desenvolvimento de Diabetes Mellitus Tipo 2: um Distúrbio Metabólico capaz de “minar” a Circulação Sanguínea, ocasionando Amputações Periféricas (especialmente em pés e pernas) e degenerando em: Rins (Insuficiência Renal Crônica); Visão (Cegueira Irreversível); Coração (Infarto Agudo do Miocárdio) e Cérebro (Acidente Vascular Cerebral: Isquêmico e Hemorrágico).

Àqueles que Estejam Precisando Emagrecer!

Geralmente, as pessoas se encontram acima do seu peso ideal passam a praticar dietas com Valor Calórico inferior ao habitual para, assim, fazerem com que o organismo passe a gastar a Energia acumulada sob a forma de Gordura. Entretanto, isso deverá ser praticado sob orientação e acompanhamento adequados para que a ingestão calórica não se torne inferior ao nível exigido pelo Metabolismo Basal e, também, para que a redução calórica seja realizada de forma a Resguardar Saúde!

O ideal é buscar um Nutricionista e fazer uma Reeducação Alimentar, que respeite Metabolismo e Individualidade Bioquímica, Estilo e Hábitos de Vida, Condição de Saúde e Estado Nutricional, orientando e conduzindo o processo aliado a uma Prática Regular de Exercícios Físicos para, assim, melhorar não apenas o peso, mas também a Relação com a Comida e a Qualidade de Vida!

Considerações Finais

Sentir fome é um sinal natural que o cérebro envia ao corpo, da mesma forma que acontece quando um indivíduo sente sede, sono, cansaço, felicidade, entre outros. Geralmente, esses sinais são respeitados. Entretanto, quando se trata da fome muitos estão dispostos a rejeitar e até mesmo sofrer com esse sinal, que reflete uma necessidade fisiológica do organismo. Algumas pessoas alegam “estar sem tempo”, enquanto outras, casos bastante preocupantes, declaram “estar fazendo dieta”.

Embora o estilo moderno de vida venha trazendo um rápido e exagerado ganho de peso para boa parte da população em geral, passar longos períodos “sentindo fome”, não é uma boa maneira de eliminar o peso acumulado. Na verdade, para emagrecer de forma saudável é essencial praticar uma alimentação balanceada e incluir um plano viável de exercícios físicos regulares.

Os passos bioquímicos percorridos por um corpo saudável, em vigência de Fome, foram descritos com o intuito de esclarecer todos os malefícios advindos de uma prática muito comum na sociedade moderna: passar fome para emagrecer. O importante é entender que ter o hábito de passar muitas horas sem comer, pensando em emagrecer, tem potencial para desequilibrar o organismo inteiro e que a barriga refletida no espelho é apenas o começo da “confusão metabólica” que pode se instalar no organismo.

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